Sefirot, as dez emanações Divinas.

Sefirot, as dez emanações Divinas.

Pergaminho cabalístico, 1605 – Oxford Library Rabi Moisés de Leon, cabalista espanhol do século XIII, escreveu:

“As dez sefirot ( plural de sefirá, que por sua vez significa esfera) são o segredo da existência, o aparato da sabedoria, o meio pelo qual os mundos de cima e de baixo foram criados”.

Segundo o Zohar, Deus deu forma e conteúdo à Sua Criação através das dez sefirot.

Toda a realidade, tanto espiritual quanto material, é criada por meio destas que são vistas como “forças fundamentais”, “recipientes” da atividade de Deus.

As sefirot são “canais” através dos quais a energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada coisa que existe, criando assim uma “corrente espiritual” que liga e vivifica todas as coisas, impregnando-as da Essência Divina.

As leis que regem o fluxo destas energias foram estabelecidas durante o processo da Criação, que pode ser vista como uma progressiva transformação de níveis de energia espiritual.

Nesta progressiva transformação, foram criados universos espirituais paralelos, sendo o nosso mundo o último desta corrente.

Em nosso mundo, a Luz está mais afastada da sua Fonte Divina, portanto Deus está mais “escondido” de nós e, por isso, este mundo é espiritualmente inferior aos outros.

Mas, ao mesmo tempo, é superior por ser a meta e o fim da Criação Divina.

Nele, o homem (única criatura com livre arbítrio ) pode afetar, por meio de suas ações, o fluxo das Energias Divinas, criando mudanças de grande proporções em outros mundos.

Com isto poderá aperfeiçoar o Cosmo e fazer com que a Criação vá aproximando-se de sua meta Divina.

Nos textos cabalísticos podemos encontrar enumeradas onze sefirot.

No entanto, como duas destas – Keter e Da’at – representam dimensões diferentes de uma mesma força, ambas se excluem mutuamente.

Por isso, a tradição geralmente fala de dez sefirot.

O Zohar, Livro do Esplendor, a obra central da Cabalá, de autoria do Rabi Shimon Bar Yochai (séc II EC) e, mais tarde, a doutrina de Rabi Isaac Luria centram-se nas sefirot.

Seu conceito aparece em outras obras como o Sefer Yetsirá, atribuída ao patriarca Abraão, e o Sefer Ha-Bahir de autoria de Rabi Nechunia ben ha-Kanah.

As sefirot parecem estar envolvidas em um mistério, de difícil compreensão, já que além de serem puramente espirituais, possuem inúmeros e complexos níveis de significado, inúmeras interpretações e implicações.

Podemos até vislumbrar como agem, mas só alguns sábios espiritualmente elevados, verdadeiros mestres da Torá, chegam a compreender sua essência e seus segredos.

Por que, então, estudar ou se preocupar com assunto tão indecifrável?

Porque, como escreveu Rabi Moisés de Leon, as sefirot são o segredo da existência e de nós mesmos, o segredo de como nos aperfeiçoamos, aperfeiçoando, ao mesmo tempo, o mundo à nossa volta.

O que é uma sefirá

Cada sefirá (esfera) é um modo ou um poder específico através do qual Deus governa e sustenta o Universo. Por isso, as sefirot podem ser consideradas como “atributos” ou “qualidades”, ou ainda, “vestimentas” Divinas.

Quando pedimos a Deus que use conosco de Sua Bondade Absoluta e nos abençoe com a Sua Abundância, estamos pedindo para que Ele se releve através do atributo da sefirá Chessed.

Podemos dizer que as sefirot são a “matéria-prima” do Cosmo, o “código genético” que pode ser identificado em todos os níveis e dentro de todos os aspectos da Criação.

Tudo o que foi criado – do mais espiritual ao mais material, do maior ao menor – toma forma através das sefirot.

Para se percorrer as 10 Sefirot , temos 22 caminhos que são as representações do 22 Arcanos maiores do Tarô

Segundo nossos sábios místicos, por este motivo elas constituem o paradigma conceitual para se entender a Criação.

O Rabi Isaac Luria, o Arizal, afirmava que as sefirot são “tanto os instrumentos que Deus usa para dirigir o mundo, quanto as janelas através das quais podemos perceber o Divino”.

A palavra sefirá é relacionada com várias palavras hebraicas: Saper, que significa revelar ou se comunicar; Sapir, safira, brilho ou luminárias; Safar, contagem, número, e também com Sefar, que significa limite, fronteira.

Em sua essência, todas estas palavras têm conceitos inter-relacionados e apontam para duas funções básicas das sefirot.

Em primeiro lugar são “luzes” (orot). A luz de uma sefirá é o fluxo de energia Divina que está em seu interior e serve para revelar ou expressar a grandiosidade Divina.

Em segundo lugar são “vasos” ou “recipientes” (kelim) que “filtram” ou “revestem” a Luz Infinita que as preenche.

Trazem esta Luz desde a Fonte de Todas as Fontes, Raiz de todas as Raízes, Deus Infinito, o Ein Sof, até nosso mundo finito.

Sem estes “filtros” ou “vestimentas” a Criação seria totalmente dominada pela Luz Divina. Em sua trajetória espiritual, a Luz vai diminuindo, possibilitando que a Criação se aproxime do Criador.

Para tentar entender estes conceitos, pensemos por um instante no sol, uma das menores estrelas criadas por Deus neste universo.

Apesar de posicionado a milhões de quilômetros da Terra, sua energia nos dá luz e calor indispensáveis.

Mas, se tentarmos fitá-lo, sem proteção, sua luz nos cegará. Imaginemos uma nave espacial tentando aproximar-se do sol. O calor e a energia a aniquilariam !

Do ponto de vista humano, as sefirot podem parecer possuir existência múltipla e independente.

Uma sefirá representa a força e o poder do julgamento rigoroso; outra, a bondade e o amor; outra, a misericórdia e assim por diante.

Porém, as sefirot e o Ein Sof formam uma unidade, uma existência única.

Moisés Cordovero, cabalista do século XV escreveu a este respeito: “Para ajudar-te a conceber o processo da emanação das sefirot, imagina a água que escorre por vasos de diferentes cores: branco, vermelho, verde e assim por diante.

À medida em que a água se espalha nesses vasos, parece adquirir a cor do vaso, embora seja desprovida de cor.

A mudança na cor não afeta a água em si, mas apenas a nossa percepção da mesma. O mesmo acontece com as sefirot.

A essência não muda; só parece mudar quando escorre dentro dos vasos “.

De onde vêm? O processo de emanação

Numa interpretação mística, o primeiro capítulo de Gênese, ao relatar a Criação, descreve um início, o mais primordial: revela o processo da saída de Deus das profundezas Dele mesmo e a emanação das dez sefirot, ou seja, sua emergência de dentro do Ein Sof, Deus Infinito.

Para se referir a Deus os cabalistas mais antigos cunharam o termo Ein Sof, que significa literalmente “Infinito” ou “Aquele que não tem fim nem limite”.

Um dos axiomas básicos da Cabala é que o homem não tem meios de entender Deus, Infinito e Imutável, nem tão pouco os Seus motivos.

Porém, apesar de Deus ser ilimitado e oculto, Ele se revela a nós parcialmente – e na medida em que cada um de nós pode reconhecer o Seu poder e a Sua existência – através da Criação e das dez sefirot.

Em contraste com este Deus “pessoal” das sefirot, Ein Sof representa a transcendência absoluta de Deus.

Segundo o Rabi Isaac Luria, “no início do início” a Luz de Deus Infinito, Or Ein Sof, preenchia toda a realidade, pois Deus é a própria Realidade, sem início e sem fim.

Nada havia além da Luz Divina, pois nada pode manter sua própria existência dentro do Ein Sof.

Para que o universo passasse a existir como entidade independente, Deus Se “ocultou” e Se “retraiu”, cedendo espaço para a Sua Criação.

Esta ação não diminui, de modo algum, a Perfeição Divina. Este conceito de ocultamento da Luz Divina é chamado nos textos cabalísticos de tzimtzum (contração).

Esta “contração” resultou no aparecimento de um “espaço” vazio, um “vácuo”, um “ponto” no qual o universo passou então a existir.

Rabi Haim Vital, cabalista e discípulo do Ari, ao explicar o processo dessa retração Divina, tzimtzum, dá o seguinte exemplo: “A Luz retirou-se como a água de uma lagoa quando agitada por uma pedra.

Quando a pedra cai na lagoa, a água que está naquele exato lugar não desaparece, mas se afasta, incorporando-se ao restante.

Desta forma, a Luz retraída convergiu-se para o além e no meio ficou o vácuo”.

No vácuo primordial criado por este tzimtzum passou a existir a ausência da Luz, a escuridão primordial. Neste “vácuo”,

Deus emanou um “raio” que serviu de “condutor” da Luz Divina finita.

A revelação inicial dentro do “vazio” primordial é a revelação da Luz.

Em Gênese, a primeira declaração explícita da Criação foi: “Deus disse: Faça-se a luz e a luz se fez”.

A partir deste “raio” de Luz, as dez sefirot emanam de forma sucessiva e em ordem específica.

É através destas que Deus – por Sua vontade – limita Sua Luz e manifesta qualidades específicas que Suas criaturas podem apreender e absorver.

De uma forma simplificada, no decorrer do processo de emanação das sefirot são criados cinco universos paralelos – olamot, quase todos espirituais em sua essência.

O primeiro Adam Kadmon é completamente ligado e unido ao Ein Sof, na realidade não poderia ser chamado de universo.

Segue-se o Atzilut, o mundo da emanação; Beriyá, da criação, Yetzirá, da formação, e, por último, Assiyá, o mundo da ação no qual vivemos.

As Dez Emanações Divinas

Apesar de Deus ter-Se “ocultado”, continua intimamente conectado à Sua Criação, pois sem Ele nada existe.

Como vimos, agindo como um canal de ligação entre Deus e Sua Criação, as sefirot permitem a Deus , Infinito e Ilimitado, interagir com Sua Criação, finita e limitada.

É através destas que o Ser Absoluto se revela e se conecta com Sua Criação.

A simples relação de seus nomes não vai transmitir adequadamente sua essência.

Além disso, temos que ter em mente que as imagens e símbolos são usados apenas para nossa compreensão, pois não expressam o mistério da Criação e tem que ter cuidado ao abstrair os conceitos.

A configuração gráfica das sefirot, em textos cabalísticos, é uma composição vertical ao longo de três eixos paralelos.

Textos cabalísticos usam vários nomes quando referem-se à mesma: uma árvore (etz), uma escada (sulam) ou a “imagem celestial de Deus” – (tzelem Elokim).

Neste caso a configuração lembra um corpo humano.

Segue-se a ordem de emanação das sefirot:

Keter, coroa – representa a onipotência e onipresença de Deus ;

A Vontade Divina Absoluta; a Soberania e Autoridade de Deus sobre todas as forças da Criação.

É a primeira e mais elevada das sefirot e está além de qualquer compreensão.

De tão inexprimível, às vezes nem é incluída entre as dez sefirot.

É a mais próxima da Fonte Divina, é a base de toda a Criação. Keter transcende as leis que governam o universo, pois estas só passam a existir após a emanação das sefirot de Chochmá e Biná.

A Cabalá refere-se a esta sefirá como o “mundo da Misericórdia”.

Chochmá, sabedoria – é o pensamento puro que Deus utiliza para o funcionamento do universo.

É o poder da Luz Original, a força primordial usada para criar os céus e a terra. Chochmá é a inspiração inicial da qual o Cosmo evoluiu.

É vista como “a planta” usada para a criação do universo físico e espiritual, pois contém – potencialmente – todas as leis que vão reger a Criação e os axiomas que determinam como estas leis funcionam.

É a raiz dos elementos espirituais: fogo, água, terra e ar. Sua essência é também incompreensível para nós.

Biná, entendimento, a compreensão, a lógica.

Com sua emanação, é criado o sistema lógico pelo qual os axiomas de Chochmá são delineados e definidos.

É através da Biná que podemos começar a entender os axiomas tanto da Criação quanto do nosso próprio ser.

Da’at, conhecimento; a “lógica aplicada” de modo diferente das duas anteriores.

Não é apenas o acúmulo, mas também a soma de tudo o que é conhecido.

É a capacidade de juntar as informações básicas e fazê-las funcionar logicamente.

Quando Keter se manifesta, D’aat se oculta, já que são manifestações interna e externa, respectivamente, da mesma força.

Chessed, graça, amor e bondade que nos beneficiam; a grandeza (Guedulá) do amor.

Esta sefirá representa o dar incondicional, o altruísmo, o impulso incontrolável de expansão.

É Deus dando-se às Suas criaturas de forma irrestrita, abrindo todas as portas da Sua Abundância.

Deus usou este atributo como o instrumento supremo no processo da Criação.

Guevurá – poder, justiça, o julgamento severo (Din); as forças para disciplinar a criação.

Guevurá representa a contração, a restrição, a criação de barreiras.


A “auto-limitação” Divina foi indispensável para a criação do Cosmo.

A Cabalá se refere a esta como midat hadin, a medida ou atributo do julgamento, do rigor.

Esta sefirá direciona a energia espiritual para atingir uma meta específica.

É a força que permite o controle para podermos vencer tanto nossos inimigos internos quanto os externos.

Tiferet, beleza, no sentido da harmonia.

É a combinação da harmonia e da verdade, dando espaço para a compaixão.

Esta sefirá está associada com o poder de conciliar as inclinações conflitantes de Chessed e Guevurá, para que haja compaixão.

Na Cabalá é designada como midat harachamim, “o atributo da misericórdia”.

A alma do homem emana desta sefirá pela união desta qualidade com Malchut, o corpo.

Netzach, vitória, eternidade, resistência.

Esta sefirá representa a imposição Divina.

É o domínio, a conquista ou a capacidade de vencer. Representa o motivo primeiro da Criação: a capacidade de vencer o mal.

Hod, esplendor, empatia.

Esta sefirá permite que o poder e energia repassados sejam apropriados e aceitáveis a quem os recebe.

É responsável pela criação dentro de uma relação do espaço deixado para o outro.

A qualidade espiritual de Hod salienta o atributo da humildade e reconhecimento.

Hod representa também a submissão que permite a existência do mal.

Yesod, fundação; alicerce representa a reciprocidade ideal numa relação.

É o meio de comunicação, o veículo de transporte de uma condição para outra.

Representa o lugar do prazer espiritual e físico; o vínculo mais poderoso que pode existir entre dois indivíduos, assim como entre o homem e Deus: a aliança entre Deus e Israel: o Brit Milá.

Malchut, reinado.

É a Schechiná, o aspecto imanente de Deus neste mundo.

É o mundo revelado onde o potencial latente é concretizado.

É o poder que Deus nos deu de receber Dele. Como símbolo do receber, esta sefirá é caracterizada como aquela que não tem nada próprio.

É um keli, um mero recipiente.

Malchut é o último elemento de uma corrente que se inicia na Vontade Divina e encontra sua realização neste mundo.

Aquele que recebe pode dar de volta, tornando-se além de receptor, um doador.

As sefirot são refletidas no homem e desta forma o homem compartilha o Divino.

A pessoa que somos é determinada pelas sefirot no mundo da ação, pois são as bases de nossa personalidade individual.

O “cabo condutor” ou o canal através do qual estas se manifestam, é a nossa alma.

Bibliografia : Revista Morashá – www.morashá.com.br / pt.chabad.org /  Inner Space: Introduction to Kabbalah, Meditation and Prophecy. Moznaim Pub. Corp.

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